Gostaria de iniciar este artigo compartilhando um pouco da minha caminhada cristã e o quanto que a minha experiência numa viagem missionária de curto-prazo trouxe esclarecimentos e aprendizado para a minha vida. Recordo-me em 2006, quando eu tinha 17 anos, eu estava no terceiro ano do colegial, uma fase considerada crucial e de grandes decisões na vida. Durante aquele ano participei de uma escola de avivamento com duração de 40 dias, chamado “Coram deo”, esta expressão refere-se, literalmente, a algo que ocorre na presença de, ou diante da face de Deus, e assim se sucedeu, durante todos os dias da semana a noite, tínhamos ministros, missionários, pregadores, músicos, pastores, etc. trazendo palavras e ensinamentos de Deus para nós, foi um tempo muito privilegiado, pois a partir dele, pude ter um vislumbre daquilo que Deus queria para mim, e o mais importante eu estava em busca disso, do chamado Dele para a minha vida.
No final daquele ano, o meu coração estava em chamas, queria largar tudo e ir, para onde? Não tinha a mínima ideia, só queria incendiar o mundo com o que eu estava a sentir e com aquilo que Deus estava a falar ao meu coração, porém, para a minha decepção, nenhuma porta se abriu, não ouvi nenhum “vá” de Deus, era só o meu desejo de “ir” que sobressaía, contudo, até aquele ponto eu sabia que, estar em missão ou ser uma missionária, não envolvia somente o “ir”, mas o obedecer, ouvir a voz Daquele que chama, então continuei onde estava, odiava estar fazendo o que era comum para a minha idade, mas fiz: entrei na faculdade, estudei, fiz estágio, fiz pesquisa, perdi-me um pouco no meio do caminho (acontece meus queridos), e para a minha alegria, finalmente, no último ano da graduação em Letras, conversando com uma amiga que tinha acabado de voltar da África do Sul, onde estudou inglês numa base da JOCUM, fui atingida, despertada, senti o meu coração na garganta, e naquele mesmo dia, ouvi o tão esperado “vá” de Deus, depois de 4 anos de espera (e preparação), finalmente ouvi aquilo que o meu coração tanto desejava. Então, terminei os meus estudos, preparei-me para ir para África do Sul e fui.
Era uma viagem de curto-prazo, inicialmente de três meses que acabou durando um ano, fiz 6 meses de escola de inglês, e os outros 6 meses fiz ETED (Escola De Treinamento e Discipulado), e olhando para atrás, percebo o quanto que esta viagem me proporcionou aprendizados e o quanto Deus realmente direciona a nossa vida em perfeição.
O que aprendi?
Fazer missão não é necessariamente ir para outra cidade ou viajar
Apesar de ter ido para exterior, esta viagem de curto-prazo fez-me perceber que fazer missão, cumprir o “Ide” de Deus, pode ser feito em qualquer lugar, onde estiver, seja no trabalho, na faculdade, na escola, na igreja etc. Esse é o movimento de Deus, alcançar a todos, começando pelo nosso próximo.
Obedecer realmente é melhor
Uma das semanas mais impactantes que tive na ETED foi com o tema “Ouvir a Deus”. Assim como já falei no começo, fazer missão é primeiro ouvir o coração de Deus, ouvir para que e para qual propósito Ele nos chama. Ele é o dono da missão, Ele é quem chama, o nosso desejo de “ir” nunca pode ser maior que isso.
Assim como Jesus fez o seu ministério na caminhada, Deus nos chama no caminho
Não podemos parar a nossa vida para fazer missão, não podemos ficar de braços cruzados esperando Deus falar aquilo que queremos ouvir, lembro que durante a faculdade tive vontade de largar tudo, e esperar Deus “me chamar” para algum lugar, mal eu sabia que o tempo de faculdade fez parte do "meu chamado", do meu processo de encontrar a minha vocação, e foi caminhando, foi durante o tempo da faculdade que Ele se revelou a mim, mostrou-me o próximo passo a seguir.
Decidir não se tornar um missionário de carreira não significa perda de interesse em missões
Durante a minha viagem, percebi que o meu chamado não era necessariamente para ser missionário de carreira (busca formação em teologia e missiologia e dedica-se exclusivamente ao um campo missionário) conheci várias modalidades e maneiras de fazer missão, e uma delas poderia ser a partir da minha profissão, fazer a missão no Brasil ou fora, a partir do meu cotidiano, alcançar aqueles que estão perto de mim, que assim como eu, carecem da graça de Deus.
Viagem de curto-prazo não é a missão em si, e não pode ser
Sabemos que viagens de curto-prazo ajudam como um despertar vocacional, como foi para mim, e, na verdade, essa pode ser uma das maneiras mais impactantes e imediatas nesse objetivo. Todavia, toda a viagem/missão de curto prazo, é necessário estar bem estabelecido quais os objetivos e propósitos dela. Precisamos estar em sintonia com aquilo que Deus já está fazendo no lugar para onde se pretende ir, e precisamos estar cientes do porque ir, o "como" fazemos viagens missionárias de curto-prazo pode, de fato, importar mais do "o que" fazemos.
Fazer missão: o chamado para todos
Durante a minha viagem, vi equipes que foram para países africanos, passavam uma semana em alguma vila, tiravam fotos de crianças e bebês africanos, pregavam a palavra, etc. porém acabava aquela semana de projeto missionário, não apoiavam mais as missões, nem orando, nem indo, nem contribuindo, a missão durava apenas uma semana. Isso não pode acontecer, não podemos confundir missão com fazer turismo, o “Ide” é para todos, fazer viagens missionárias de curto-prazo para além de ter os seus propósitos bem definidos, precisa ser uma continuação do nosso ministério, não um acontecimento isolado na nossa caminhada cristã.
Em suma, eu sei que ter feito essa viagem missionária de curto-prazo para África do Sul foi divisor de águas para a minha vida, e acredito que pode ser para outras pessoas também. Acredito que este tipo de viagem missionária pode contribuir significativamente aos propósitos Deus para estabelecer Seu Reino na terra, mas não podemos parar por aí, ou nos limitar a isso, não fazemos missão de viagem a viagem, fazemos missão com a nossa vida, onde quer que estejamos e assim como está escrito em Lucas 10:2, a seara é grande, porém são poucos os trabalhadores, eu oro para que Deus continue a despertar a sua Igreja, que Ele desperte cada vez mais trabalhadores, não apenas para serem voluntários em viagens missionárias, mas para terem a missão como estilo de vida, para obedecerem o “Ide” aonde quer que estejam.
Artigo por Laura Lago
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